segunda-feira, 25 de junho de 2012

Acesso


Há um quê de mágico na primeira vez em que alguém me chama de Celle.
É como se uma corrente elétrica passasse pelo meu corpo. Um gesto capaz de acalmar qualquer tempestade, acalentar num dia ruim, me eximir de ter que pedir desculpas. Ah, como é bom não ter que pedir desculpas. Peço tanto que até perde o significado.

É o anúncio de uma intimidade que se inicia. Nada a ver com romance.
Poder me chamar de Celle e me deixar à vontade com isso é um convite para jantar. Uma fofoca no Facebook. Uma ligação a qualquer hora, por qualquer motivo, porque eu pareço a pessoa certa para ouvir um desabafo. É pedir para me desmanchar.
Quer dizer que você sabe que dou patadas quando estou aflita, ou que preciso cometer uma gordice quando estou ansiosa. Quer dizer que você é o (a) parceiro (a) perfeito para isso.

Capaz que soe estranho a quem me conhece com essa cara de quem devora um geek no almoço e palita os dentes com a canetinha do seu tablet. Tenho mil mecanismos de defesa.
Quem diria que o código de acesso seria algo tão bobo? Uma parcial do meu nome. Menos mal. Seria chato se tivessem que me chamar pela data de nascimento.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Espiritualizado é o *$%#¨@&!


A tal paz de espírito tem sido tão desejada quanto o último lançamento da Polishop. Parece que vai transformar as nossas vidas assim que pusermos as mãos nela. Não, não só parece. Estar em paz realmente muda todo o panorama.

O problema está em identificá-la. Enxergo camadas e camadas de hipocrisia em gente que se diz espiritualizada falando manso, fazendo falsas preces, participando de ONG's. Bullshit. Pode haver uma ou outra pessoa que realmente faça essas coisas, mas a maioria está no auto-engano. Até que ponto as suas preces são válidas depois que você começa a maldizer os outros? Até que ponto a caridade é válida se você não estende a mão para o amigo mais próximo? Até que ponto vale falar manso se for para manipular?

Tenho procurado essa paz de espírito há mais de uma semana, embaixo de cada pedra e por trás de cada cortina, nas lojas de conveniência. Não estava lá. Esgotou. O balconista avisou que liquidaram após o carnaval.

Fui obrigada a confeccionar em casa. Costurei amizades antigas, mesmo que meio tortas; preguei alguns botões nos relacionamentos mal acabados; diminuí a barra nas discussões e tirei o fundo falso.
Até que me vestiu bem, mas sinto que acentuou a minha bunda. Todos que me vêem vestida com ela pensam "olha lá ela querendo chamar atenção". Fazer o quê. Pareceu melhor do que lavar a roupa suja.

sábado, 16 de junho de 2012

Essa guerra não é minha


A primeira coisa que eu costumo perguntar a uma pessoa recém-conhecida é "o que eu preciso saber sobre você para garantir a nossa sobrevivência?"

Há quem ria e inicie um papo despretencioso que pode durar horas. Há quem leia ou escute apenas "sobrevivência" e responda sobre comida e primeiros socorros. O último caso é clássico e um alarme para a insegurança. Baixam-se as cortinas e sobe um letreiro reluzente: "tenho travas, ainda não aprendi a falar com as pessoas". Calma. Tem conserto!

Não importa exatamente a resposta. O que conta é o mecanismo por trás dela.

Há quem vista o manto do grande amigo e incentive pensamentos ruins. Gosta de ver o circo pegar fogo, mas entrega a caixa de fósforo na mão de outra pessoa. Faz fofoca disfarçada de confidência. Eu deixo passar. Enterro a pessoa e reafirmo meu compromisso com a felicidade.

Eu gosto de pessoas. Quando elas gostam de mim de volta, é bônus. Quando alguém se permite contaminar por uma opinião negativa a meu respeito, sem me conhecer, penso "Deeeus, mais um? Será que alguém fará diferente neste ano?". O meu novo bordão é "em quanto está o bolão?".

Dá dó ver uma pessoa mergulhando no auto-elogio. Sou obrigada a enxergar aquele indivíduo como um farsante. A mulher que se acha irresistível a todo macho na Terra; o homem que acredita que é um amante carinhoso e o problema estava todo na ex. Não.

Uma pessoa vaidosa demais é capaz de ver a atenção que você recebe e ir lá mostrar que também merece aplausos. Cobra a conta da sociedade. Compete com quem não está jogando. Seja numa sala de aula opinando sobre o que não conhece ou numa conversa de bar, buscando as mesmas risadas que você proporciona. Na nota fiscal deve vir escrito "2kg de admiração à vista". Também queria passar a cobrar a nota, mas a minha vida é malandra e sonega.

Não importa o que eu ou qualquer outra pessoa tenha a falar. Em nossas descrições pessoais, sempre seremos a nossa melhor versão. Saímos todos da escola do Professor Xavier. Somos únicos. Edição de colecionador, embalada a vácuo.

Um dia, quem sabe, todos possam aprendem de uma vez por todas que as nossas verdades são escritas pelas nossas atitudes.

domingo, 10 de junho de 2012

Você é o roteirista


Quem nunca se sentiu infeliz com a própria vida? É comum que tenhamos o hábito de praguejar contra alguma entidade divina ou o ex-namorado mais próximo. Mas será que somos capazes de assumir que somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade? Que uma pedra no caminho merece um belo pontapé? Se ela não se mover, basta alterar o curso.

Hoje resolvi fazer uma reforma. Algo material, espiritual e social.

Dizem que o Facebook é uma vitrine. Dia desses reparei que um rapaz parecia ter uma felicidade de fachada. Coisa pobre de espírito essa de ter uma ideia sobre quem eu nem conheço, pensar que sei algo sobre a vida das pessoas porque acompanho suas atualizações milimetricamente pensadas. Somos todos topo de iceberg.

Vejo gente demais se lamentando por não ter uma paixão no dia dos namorados que se aproxima. Não há nada tão interessante nessa data quanto encontrar uma pessoa solteira e de bem com ela mesma. "Não foi desta vez" e a vida segue. Ser feliz é afrodisíaco.

A primeira coisa que joguei fora na caçamba dessa reforma foi a pena que eu sentia de mim. Não quero mais me questionar por que algo deu errado. Quero viver a minha vida transmitindo e atraindo coisas e pessoas boas, mesmo que do meu jeito ácido. Afastando tudo que me atrasa.

Nada como estar em paz.