sexta-feira, 28 de março de 2008

Aqueles dias



A minha odisséia foi traçada do Paraíso ao inferno, ou seria Guarulhos? Tudo por uma páscoa obscena na UNIFESP.
Arrisquei ir de salto alto, descobri estar menstruada no meio do caminho - e sem qualquer sinal de um piedoso absorvente -, com cinco pênis de chocolate numa sacola ao som de buzinadas que denunciavam a escolha errada do meu vestuário para o dia. Leia-se "decote escandaloso".

Passei a tarde tentando persuadir colegas a tirar fotos com aqueles chocolates sedutores e a registrar o momento mágico, mas o falso moralismo imperou, o que não foi a cerejinha do topo desse dia delicioso. Fui obrigada a apelar para um método nada eficaz para segurar o famoso fluxo menstrual: pedaços e pedaços de papel higiênico enrolados na calcinha.

Fora as bolhas nos pés e o sol escaldante, estava tudo bem. Até eu resolver voltar pra casa descendo uma ladeira de asfalto precário. Sei que se eu tivesse uma garrafa de rum e um tapa-olho, faturaria mais que Johnny Depp em toda uma famosa trilogia.
O boteco no final da rua intitulado “Pé na Jaca” seria muito atraente se eu não tivesse apenas o dinheiro do “busão”, um bilhete amassado de metrô e uma amiga sacana teoricamente emocionada com a minha superação.

No balanço daquele respeitável transporte público, o citado método antifluxo falhou, o que só notei na entrada do metrô Armênia. O tal papelzinho nada protetor tinha descido para as minhas coxas, e eu batia enfaticamente na perna tentando tirá-lo de dentro da minha calça, dizendo “Olha, Sabrina! Devem ser aqueles 10 reais que nós perdemos!”, quando senti uma mão no meu ombro e um sorriso desconcertado do meu querido veterano. “Sabe, hoje não é um bom dia” foi a primeira e única coisa que consegui dizer a ele com certa eloqüência. Ele também não parecia estar muito ansioso para saber que objeto não-identificado se encontrava descendo pelas minhas pernas. Esqueci o objeto, ganhei um abraço e segui rumo ao metrô, diga-se de passagem, com um aroma peculiar às 18h. Uma mistura de Rexona com churrasquinho de urubu ao molho pardo.

Alguns minutos depois, durante a nada breve caminhada até a minha casa, percebi que algo estava faltando. Fui abandonada pelo pedacinho maroto de papel higiênico que defendia bravamente minhas partes íntimas e há poucos minutos havia migrado para minhas coxas. Pensei, calculei. Não eram mesmo 10 reais! Risos desesperados se seguiram, até que resolvi confidenciar para quem me acompanhava. Mais risos. Lágrimas pelas bolhas, mas risos. E são risos até agora. Foi uma pisada na jaca com estilo, mas sem glamour. Que bom! Muito mais histórias pra contar.