sábado, 5 de abril de 2008

El abogado del diablo

Nunca conte comigo para negociações no Mercosul ou pergunte onde fica o ponto de ônibus – não sei responder nem na minha própria língua e neste caso seria obsceno! Sou péssima em espanhol! A última vez em que ousei me aventurar na língua, foi ao tentar ler o título do livro de uma amiga. “El abogado del diablo” foi facilmente transformado em “refogado de quiabo”, regado ao meu comentário declarando preferência por quando ela lia livrinhos pornôs, mas acho que ela não chegou a ouvir a frase completa, pois já se debulhava em lágrimas com o meu feito.
O mais próximo que chego da compreensão do espanhol é com algum filme do Almodóvar, mesmo porque, grande parte é em inglês. O cara que inventou as legendas merece um beijo na boca!
Fui mal acostumada com Zorro e Maria do Bairro, é a verdade.
O que mais via em produções do gênero era choro e sexo. Como adivinhar que realmente falavam daquele jeito!?
Sinto um frio na espinha quando ouço alguém discursando sobre o Brasil também aderir ao espanhol, castelhano, que seja, como língua oficial a fim de homogeneizar a cultura sulamericana. Que isso não aconteça, senão terei que pesquisar com urgência um emprego de mímica.
Para falar a verdade, eu também não sei mais que raio de língua se fala no Brasil. Eu, amazonense de sotaque carioca, residindo em São Paulo, acompanhada de irmão gaúcho e cachorro pernambucano. Dispenso ter que explicar que meu cachorro pouca participação tem na história!
A primeira coisa que um colega de classe me perguntou no meu primeiro dia de aula em São Paulo foi se eu tinha “branquinho”. Nasci na rota do pó, numa cidadezinha chamada Tabatinga, quase Colômbia.Por alguns segundos, a única coisa branquinha que mostrei a ele foi a minha cara. “Não pode ser!”. Mais uma pessoa para rir de mim. Caso algum dia eu resolva comparecer a um teste vocacional e perguntarem qual a minha motivação para a escolha de comunicação social, responderei “trauma”.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Aqueles dias



A minha odisséia foi traçada do Paraíso ao inferno, ou seria Guarulhos? Tudo por uma páscoa obscena na UNIFESP.
Arrisquei ir de salto alto, descobri estar menstruada no meio do caminho - e sem qualquer sinal de um piedoso absorvente -, com cinco pênis de chocolate numa sacola ao som de buzinadas que denunciavam a escolha errada do meu vestuário para o dia. Leia-se "decote escandaloso".

Passei a tarde tentando persuadir colegas a tirar fotos com aqueles chocolates sedutores e a registrar o momento mágico, mas o falso moralismo imperou, o que não foi a cerejinha do topo desse dia delicioso. Fui obrigada a apelar para um método nada eficaz para segurar o famoso fluxo menstrual: pedaços e pedaços de papel higiênico enrolados na calcinha.

Fora as bolhas nos pés e o sol escaldante, estava tudo bem. Até eu resolver voltar pra casa descendo uma ladeira de asfalto precário. Sei que se eu tivesse uma garrafa de rum e um tapa-olho, faturaria mais que Johnny Depp em toda uma famosa trilogia.
O boteco no final da rua intitulado “Pé na Jaca” seria muito atraente se eu não tivesse apenas o dinheiro do “busão”, um bilhete amassado de metrô e uma amiga sacana teoricamente emocionada com a minha superação.

No balanço daquele respeitável transporte público, o citado método antifluxo falhou, o que só notei na entrada do metrô Armênia. O tal papelzinho nada protetor tinha descido para as minhas coxas, e eu batia enfaticamente na perna tentando tirá-lo de dentro da minha calça, dizendo “Olha, Sabrina! Devem ser aqueles 10 reais que nós perdemos!”, quando senti uma mão no meu ombro e um sorriso desconcertado do meu querido veterano. “Sabe, hoje não é um bom dia” foi a primeira e única coisa que consegui dizer a ele com certa eloqüência. Ele também não parecia estar muito ansioso para saber que objeto não-identificado se encontrava descendo pelas minhas pernas. Esqueci o objeto, ganhei um abraço e segui rumo ao metrô, diga-se de passagem, com um aroma peculiar às 18h. Uma mistura de Rexona com churrasquinho de urubu ao molho pardo.

Alguns minutos depois, durante a nada breve caminhada até a minha casa, percebi que algo estava faltando. Fui abandonada pelo pedacinho maroto de papel higiênico que defendia bravamente minhas partes íntimas e há poucos minutos havia migrado para minhas coxas. Pensei, calculei. Não eram mesmo 10 reais! Risos desesperados se seguiram, até que resolvi confidenciar para quem me acompanhava. Mais risos. Lágrimas pelas bolhas, mas risos. E são risos até agora. Foi uma pisada na jaca com estilo, mas sem glamour. Que bom! Muito mais histórias pra contar.