sexta-feira, 4 de maio de 2012

Petrificados


Há corpos pelas vias de São Paulo. Não estão mortos, mas para a maioria dos cidadãos é algo semelhante. São corpos cobertos com um jornal, como se fossem sujeira a esconder. Como ficaria surpresa a população favorecida se alguém contasse que ali embaixo há pessoas; seres humanos que usam o álcool para aquecer o corpo e entorpecer a mente, numa tentativa de esquecer sua condição.

A brisa do outono traz consigo arroubos de filantropia. Há campanhas do agasalho por toda parte. A população enxerga ali a oportunidade de abrir um espaço no guarda-roupa. Separa suas roupas furadinhas, manchadinhas e, seguindo a tendência, suas atitudes mesquinhas. Não gosta de doar o que é bom porque "esse povo já recebe assistência demais", como se albergues limitados, imundos e violentos fossem a última novidade no ramo de hotelaria. Seguindo essa linha de pensamento, pode-se afirmar que o sopão de restos servido embaixo das pontes tem o requinte de um ratatouille?

Temos no nosso subconsciente a figura do vagabundo. Esquecemos que ser indigente não é um estrato social cobiçado. Há pessoas que perderam seus bens em desastres, idosos que foram negligenciados, doentes mentais e outras numerosas histórias por trás de cada pessoa que ignoramos a passos largos nas ruas.
Não há frio tão cruel quanto o que passa por dentro do nosso corpo.

Um comentário:

David disse...

O complicado é que na rua, especialmente em Sampa, não dá pra saber quem é quem. Eu ainda fico mais atento aos de terno e gravata.