quinta-feira, 26 de abril de 2012

Amor: lenda urbana?


Hoje uma amiga me questionou: "você ainda sabe o que é namorar?". Confesso que tive lá as minhas dúvidas, mas sei. Definitivamente sei.

Namorar é sentir medo que acionem o IBAMA sobre as borboletas presas no meu estômago. Abrir um sorriso quando o celular vibra e trocar sms a qualquer hora, sem que nenhum dos dois se sinta perseguido por isso. Encontrá-lo no fim de semana e, mesmo com a distância de poucos dias, ainda ouvir ou falar em saudade. Ficar abraçado debaixo do cobertor num dia de chuva, trocando carícias e falando besteiras à distância de um nariz. Sentir vontade de morder qualquer parte do corpo da outra pessoa. Ganhar apelidos absolutamente opostos à realidade: namorada magra é chamada de gordinha, o namorado grande tem apelido no diminutivo. Não sei se para chegar a esse estado estamos ridiculamente apaixonados ou somos apaixonados ridículos, mas acontece na vida e na TNT.

Namorar é fazer um jantar com cardápio elaborado por horas (dias, semanas, vidas passadas), e ficar contente quando ele retribui com um miojo.
Também é combinar dele te buscar em casa, você investir na produção e despertar um tesão que não permita que os dois passem da porta.
Ver beleza ou graça no outro em estado decrépito de gripe. Responder "nada" quando ele pergunta se está tudo bem, num daqueles dias, discutir por algo que não incomoda de verdade e ser chamada de louca quando pedir "asilo político".

Ter um relacionamento sério não é apenas uma mudança de status nas redes sociais, momentos de prazer e uma sucessão de desastres divertidos. Namorar é querer estar lado a lado, e se um dos dois estiver à frente, que seja para proteger o outro. É ter dentro de si um tesão vulcânico e o mais pueril sentimento. Assistir ao outro dormindo e traçar planos de dominação mundial. Como é mesmo o nome do sortudo que casa com a realeza? Príncipe-consorte?
Amar é estar em plena adolescência, sob qualquer idade.

E ainda há quem fuja disso tudo. Não se arrisca por nada e propõe um tal de relacionamento aberto a toda pessoa promissora que encontra. Talvez essa seja a modalidade mais superestimada dos últimos tempos. É apenas uma forma de auto-engano. O seguro do amor.
Entramos num acordo de que podemos nos relacionar com outras pessoas para cobrir o medo de uma traição ou escapar das discussões provocadas pelo ciúme. É como pegar uma moto-serra e cortar as árvores com seus corações entalhados. Quebrar a flecha do cupido. Rasgar as figurinhas do "Amar é...".

Se abrimos mão de todas as minúcias deliciosas da relação a dois por medo de conflitos, que valor tem o amor? Aonde encontrá-lo? O que come? Vamos torcer para que não entre em extinção.

4 comentários:

OGROLÂNDIA disse...

Esse finalzinho ficou parecendo chamada do globo repórter!!!
Outro dia li em um blog um texto que era a prova do amor. um casal de velhinhos pegando ônibus juntos, de mãozinhas dadas, todo casal de namoradinhos.

alex disse...

gostei do texto
passa bem a ideia do que é paixão.
a parte do celular, já passei por isso

Rodolfo Stanic disse...

É moderninho dizer que é "independente" e que não acredita no amor, quando na verdade, toda essa postura não passa de medo.

O amor verdadeiro pode doer, mas um relacionamento aberto não substitui a intimidade, a cumplicidade e a segurança que o namoro a dois nos dá. Não troco uma ou outra discussão inevitável pela superficialidade.

Ótimo texto :)

Fabio Rocha disse...

Estou concordando. Belo.