quinta-feira, 29 de março de 2012

Vendemos fiado


Aos quase 23 anos, quando optei por abrir mão da carreira de jornalista e cursar de uma vez por todas Publicidade e Propaganda, sequer me passou pela cabeça que o jovem ingressante de 17 ou 18 anos me fizesse tanta vergonha.

Pelas catracas da faculdade, passa um bando que brada - "tudo culpa desses nordestinos!" - como forma de protesto ao governo atual. Em seu mundinho, nordestino e retirante são sinônimos. "Todos uns mortos de fome que não sabem falar", dizem.

Admito que, desde fevereiro, sinto medo dessa nova safra que em 4 ou 5 anos entrará oficialmente para o mercado de trabalho sob a alcunha de "comunicadora social".
De fato, se comunicam bastante: aos cochichos, apontando, ignorando a educação que seus pais supostamente lhes deram. Se não houver um defeito à mostra, são prestativos o bastante para servir ofensas gratuitas. O ambiente universitário virou uma selva. Para alguns, sinto vontade de solicitar a carteirinha de vacinação.

Suas carinhas de desprezo quase me fazem chamar os paramédicos. O que mais olhos revirados e uma boca torta me diriam? Reza a lenda que um dia podem chegar a engasgar com a própria língua.

Tão cedo e já disputam um poder financeiro que não lhes chega por contra-cheque. Há um embate silencioso vencido por quem tem carro. Nunca vi a dependência de um progenitor ser moeda tão valorizada. Pois agora saibam que acontece e que um dia gostaria de sugerir como pauta ao Globo Repórter. "Juventude: quando largar de mão".

Seria fantástico se a maturidade e o bom senso tivessem porções individuais vendidas nos postos de conveniência. Talvez uma toalha purificante para os que estão encharcados no seu preconceito. Provável que eu bolasse uma campanha publicitária que desse um certo status ao produto, na esperança de torná-lo um sonho de consumo.

Gostaria de ver gente aos tapas por uma dose de "vamos dar um tempo nessa palhaçada". Talvez seja o caso de dar uma chamada no marketeiro dos bons modos e avisar que o que estamos tentando vender não é fácil de engolir. O mercado é exigente e está acostumado com o que vem mastigado. Pelo menos, o preço é acessível. Vendemos fiado.

4 comentários:

OGROLÂNDIA disse...

já vi que as coisas não mudaram muito desde que entrei na minha primeira faculdade...17 anos atrás já era assim.
Acredito que depende do curso. Cada curso atrai um perfil de maioria.
Fiz um curso de administração em que o povo era exatamente assim, ou pior.
Fiz também um curso de História, e lá, graças a Dios, não tinha dessa frescuragem hereditária.

Daniel Morais disse...

Sei que comentário não é local pra esse tipo de coisa que irei falar por aqui, porém eu gostei muito do seu blog, mais do que isso eu gostei do jeito que você escreve, eu gostaria de poder entrar em contato pra falar com você, por e-mail ou qualquer outro meio de contato que você preferir, se puder mandar um e-mail pra mim, pra que eu possa entrar em contato com você já seria bom, meu e-mail é souldeeme@gmail.com

Atenciosamente, Daniel Morais

Soyuz disse...

Vc conseguiu transmitir bem a sensação de 'Blergh'... Adicionando ao que o colega acima disse, fiz direito e nunca gostei do pessoal(por outro lado, sou bem anti-social e até um pouco misantropo, mas em tratamento...). Muitas pessoas no mundo jurídico têm o nariz empinado. Mas acho que não se compara ao pessoal de publicidade e propaganda. Infelizmente vc ingressou na faculdade mais playboy q existe. Felizmente eles não são 'formadores de opinião' propriamente ditos. Molecadinha mimada, hein?
Mas acho que os preconceitos deles contra pobre e nordestino pode ser pq publicidade e propaganda é uma especialidade em 'vender sonhos'(não no mal sentido, ainda que se possa fazer muito mal uso disso, transformando sonho em ilusão), consequentemente é um pessoal que não necessariamente lida bem com a realidade. Viajei agora... :D

Soyuz disse...

Fui me cadastrar pra poder comentar e acabei esquecendo a outra metade do que ia dizer, que é só outra hipótese...
A outra hipótese é que o sistema educacional, de aprovação automática e de ênfase no 3º grau, e aquela história toda de mundo moderno, amadurecimento tardio etc., empurrou a imaturidade do ensino médio toda para o ensino superior... É que o quadro que vc pintou me lembrou aquele ambiente estereotipado de 'high school' que a gente vê nos filmes americanos... hehehe