domingo, 26 de janeiro de 2014

Inquieta

Todos os dias eu me dedico a escrever algumas poucas páginas do meu livro. Livro. Nada que eu ainda possa chamar de "obra". Por enquanto, é apenas um amadurecido "querido diário", confidente das minhas aventuras, temores, indecências, suspeitas, constatações e alguns planos diabólicos. Sinto que, a qualquer momento, posso ter que dar cabo do sabichão. Não que nunca tenha chegado perto. Às vezes, arranco as suas páginas - sempre manuscritas - como quem desnuda um corpo recém-chegado de viagem com promessas a cumprir. Ele sabe o quanto o quero, e eu sei que ele não é tão fácil. Voyeur que sou, espero um dia dividi-lo com outras pessoas, arrancando os mesmos suspiros, o morder de lábios da expectativa, o riso exasperado com o absurdo, a dúvida quanto à veracidade, o deleite com a ousadia. Por enquanto, apenas estou resistindo ao impulso de finalizá-lo com xeque-mate, touché ou outro clichê que tenha a minha simpatia.