terça-feira, 28 de junho de 2011

Sexo à manivela

A Avenida São João foi o meu primeiro endereço em São Paulo. Na época, os bingos ainda não eram proibidos e eu podia ouvir cada número sorteado, mesmo morando no 18º andar. O sortimento de barulhos era um prato cheio para minha imaginação fértil. Um antro. Ia a pé para a escola e os meus 14 anos não me permitiam ignorar os pôsteres de filmes pornôs logo na esquina de casa. Esquecia até mesmo os nigerianos que traficavam drogas no local. Talvez eu não observasse com a discrição que imaginava ter.
Uma coisa era peculiar: por que colocavam estrelinhas para tampar os orifícios? Curvas, posições, caras, bocas e títulos de filmes já não davam mais do que uma sugestão? As pessoas superestimam buracos.
Pior era imaginar quem frequentaria um lugar daqueles. Masturbação exige privacidade, poxa! Não consigo imaginar dezenas de homens numa sala se tocando e se achando os mais viris por isso. Perceberam o paradoxo? Nem vou entrar na questão da higiene. Certamente não vendem baldes de pipoca. (Eu realmente gostaria de saber quanto custa um ingresso de cinema pornô. Caso alguém possa me informar...)
Quando fantasio, levo homens para uma cama imaginária, king size, forrada com lençol de algodão egípcio e almofadas prateadas de seda, e eu posso garantir que o distinto rapaz está sempre perfumado! Nem me venham com estória de suor, cheiro de macho e blablabla.
A questão é: que tipo de homem ainda tem tempo de se masturbar com tanta mulher dando fácil? Ser fácil não é ceder no 1º encontro, e ser difícil não é ceder no 10º encontro. Uma mulher que faz doce até não aguentar mais, não passa de uma hipócrita. E doce que passa muito do ponto vira rapadura. Quem é que gosta de comer? Enjoa. Transar não é questão de tempo, mas de empatia, química. Particularmente, não me serve qualquer homem. Precisa ser alguém apaixonante. Nunca fiz sexo casual! (eu deixo vocês duvidarem! rs)
Sair com alguém com a imediata necessidade de transar é deprimente. Sexo com hora marcada aceita cartão de crédito, certo? Os mais prevenidos podem usar o PagSeguro?
É muito melhor conhecer a pessoa, descobrir uma afinidade e permitir que o sexo seja bônus. Fantasias e provocações são bem-vindas, mas treino é treino e jogo é jogo. Homens, vamos deixar a preguiça de lado e sair dessa vida de punheta? Conquistem alguém! Confiem em mim: sexo com cumplicidade não tem comparação.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sabedoria de biscoito conta?

Não quero pisar no calo de ninguém, pelo menos, não um alguém em particular. Apenas preciso dar uma chacoalhada.

Tenho notado uma tendência de comportamento entre pessoas que foram abandonadas por um grande amor: a pregação do poliamor. Não condeno a forma de pensamento, pois já fui adepta da prática, mas lamento que seja adotada a longo prazo.

Todos que já tiveram um relacionamento sério já sonharam em juntar os trapinhos e nunca mais ter que fazer esforço ou contar com a sorte para encontrar a pessoa certa. Parecia tão perfeito, não? Impressionante como o fim não estava em nossas mãos. Se possível, faríamos a pessoa refém das nossas vontades. Por mais cretino que tenha sido o motivo do fim, ainda custamos a sentir algo diferente de amor.

Ser trocado por outra pessoa dói, mas passa. Ser trocado por um objetivo é muito mais doloroso. Por que não podemos acompanhar o passo? Viramos pedra no sapato? Engolimos aquele "preciso de espaço, estou num momento muito importante da minha vida profissional" a seco. Passamos por ridículos. Não seria melhor ouvir um ríspido "Olha, querida(o), deu no saco! Você não me leva a nada. Vou sair, viajar, me envolver com outras pessoas e você que se exploda"? Passam tanta vaselina que custamos a entender que aquela pessoa não é tão boa assim. Ainda desejamos que ela seja muito feliz! Endeusamos a perda.

Quando finalmente caimos na real, passamos a desprezar todo tipo de relacionamento. Uma pessoa só não é o suficiente, como se o par perfeito fosse um quebra-cabeças de 1000 peças. E assim vamos perdendo pelo caminho o gostinho do romance, desperdiçando boas oportunidades, pessoas que não nos trocariam por uma oferta.

Por mais clichê que seja, uma mensagem de biscoito da sorte me fez pensar no assunto. Lá estava o papelzinho "Não julgue um amor futuro pelo sofrimento de um passado". Vamos aproveitar a sabedoria - e os números de loteria no verso.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O melhor partido

Gosto de um trecho de Amyr Klink que diz "Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu". Viajar não é problema, mas por que eu me atreveria a um destino de areia movediça? Gosto de estabilidade. Não suporto provações, cobranças, e se houver chantagem, adeus.Não faço questão que seja meu.
Não recuso amores por falta de interesse, mas porque enxergo todos como investimentos a longo prazo. Você é um bom investimento? Minha satisfação é posta ao lado da frustração que me trouxer. 50% já não é o suficiente.
Devo ter me apaixonado umas 15 vezes somente neste ano. 14 por mim. Sou muito romântica e gosto de zelar por um parceiro, mas é difícil entender que também adoro demonstrar o meu amor por mim? Não me poupei presentes para o dia dos namorados. Meu amor-próprio me deu perfumes e um anel maravilhoso. Como ele é gentil e atencioso! Também quis me dar chocolates, mas lembramos o quanto isso pode afetar os meus quadris, que já fazem inveja a muita baiana.
Hoje acordei ouvindo jazz e não preciso de melhor parceria (moradores de SP podem conferir o BMW Jazz Festival neste fim de semana). Não deve me levar para jantar, mas certamente vamos assistir algum filme enrolados no cobertor. Recomendou que eu fosse ao salão de beleza no sábado e irei. Não tenho medo da escova (e é bastante provável que não entendam o trecho). Está tudo bem.
Sei que não terei um beijo ao fim da noite. Ou sim. Quem sabe não marcamos um encontro a três? Tenho lá as minhas dúvidas. Certamente me levarei para a cama, como todos os dias (licença poética para a cacofonia, obrigada).
Às vezes, eu queria esquecer por um dia quem eu sou, ser imprevisível para mim. Chegou a hora de pagar a conta do analista? Cazuza já cantava antes mesmo que eu sonhasse me apaixonar:

"Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...
Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
O meu prazer agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..."